CURIOSIDADES |
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Virgínia Brandão
Os gregos apreciam comer bem e desenvolveram, através dos tempos, uma
culinária característica, considerada uma das mais saudáveis (baixo teor
de gordura), saborosas e variadas do mundo, baseada no que a produção
local disponibiliza.
Essa tradição de
comida saudável vem de longa data. Já para os antigos gregos a alimentação era o melhor meio de
se manter a
saúde. Prova disto é que ao famoso Hipócrates de Cós (o pai da medicina,
século 5 a.C.) são atribuídos textos de dietética que constituem um
verdadeiro receituário, com uma listagem minuciosa dos alimentos
consumidos na Grécia Clássica: o azeite de oliva, os peixes e frutos do
mar, muitos dos quais eram conservados e salgados, e os vinhos - tal
como acontece hoje - já eram importantes na dieta do povo naquela época.
Mas a cozinha do
país foi mudando ao longo dos tempos, à medida que a Grécia foi sofrendo
influências ditadas pela História e hoje pode ser considerada uma
simbiose da culinária do Mediterrâneo Oriental com alguma influência
italiana e balcânica.
Durante séculos, a Grécia fez parte do Império Otomano, que subjugou o
decadente império com sede em Constantinopla. As tendências culinárias
foram se cruzando. Se foram os turcos que influenciaram a cozinha grega,
ou se aconteceu o contrário, é uma discussão interminável, mas o fato é
que as semelhanças entre a cozinha grega atual e outras do Mediterrâneo
Oriental são gritantes. Pratos como o charutinho com folhas de uva , ou
de repolho, (dolmas em grego) aparecem na cozinha grega, na libanesa e
também na de alguns paises balcânicos que fizeram parte do Império
Otomano. A presença balcânica será sensível na difusão do iogurte, outro
traço característico da cozinha grega.
O tsatsiki, o
iogurte com uma salada de pepino é mais um exemplo dessa simbiose, pois,
também, é muito popular na Síria e no Líbano,
O prazer da
comensalidade e da boa mesa
Se bem a alimentação era indispensável para fortalecer os homens para a
guerra, os gregos nunca desprezaram os prazeres da mesa em tempos de
paz. Consideravam as refeições comunitárias como uma marca de
civilização e o banquete como uma manifestação artística e a negação da
barbárie.
A vida social dos gregos inclui horas ao redor de uma mesa, em alguma
taverna, comendo, bebendo e conversando, tanto no almoço, depois do qual
fazem a siesta, como no jantar.
O clima , a natureza , as paisagens paradisíacas, a música e a alegria e
hospitalidade do povo grego, deixam a comida ainda mais gostosa e
prazerosa.
Os Ingredientes
Graças ao seu clima e à sua posição geográfica junto ao Mediterrâneo, a
Grécia tem o privilégio de produzir ingredientes muito saborosos; as
frutas e hortaliças amadurecem em todo seu esplendor, sem umidade, com
toda a intensidade dos aromas, cores e nuances ao paladar. Os tomates
são extremamente doces, os pepinos muito crocantes, as frutas um capítulo à parte
- a Grécia é a maior exportadora para
a Europa de pêssegos, damascos, melões, cerejas e melancias.
O cereal básico da
comida grega é o trigo, porém cevada também é comum. Vegetais
importantes na culinária grega incluem tomate, berinjela, ervilha,
quiabo e cebola. Pratos com peixe também são comuns, especialmente nas
regiões costeiras. Óleo de oliva, produzido das árvores proeminentes
pela Grécia, adiciona o sabor distinto da comida grega.
Como na Grécia não existem pastos
para criação de gado bovino, eles criam ovelhas, cabras e carneiros, que
não necessitam de terras muito férteis. Portanto, os pratos mais
tradicionais, levam em suas receitas a carne de carneiro.
A Cozinha
Com exceção das
ilhas, a imagem da cozinha grega não se associa aos peixes. É uma
cozinha de terra firme, de cultivos, que tem como base a berinjela, os
tomates, as abóboras, os pimentões, o pepino, os alhos, o grão-de-bico,
o feijão ou as lentilhas e o arroz.
A culinária grega baseia-se em ingredientes frescos. Carne ou peixes são
simplesmente grelhados servidos com ervas, especialmente o extremamente
cheiroso orégano, ou molho de limão. Carneiro, frango e porco podem ser
servidos grelhados em bistecas (brizola), em espetinhos como um
churrasco (souvláki), ou, ainda, cozidos em saborosos molhos. As
costeletas de carneiro são deliciosas. À base de tomate com especiarias,
há o stifado, cozido de carne ou polvo, com ervas,
tomate, cebolinhas, azeite, vinagre e suave sabor de canela. Da
culinária mais tradicional destacam-se as massas como o mussaká, que é
uma espécie de lasanha com berinjela e o pasticcio, com macarrão, carne
e molho bechamel.
Os peixes e
frutos do mar recém pescados, fritos ou grelhados, fazem parte
integrante da culinária grega.
Destacam-se o octapodi (polvo) e a kalamarakia (lulas); a Barbúnia
(trilha) e o Lavráki (robalo) ou os excelentes garides
(camarões) e astakós (lagostas).
O limão está
presente em muitos pratos gregos e é preponderante no avgolemono, a mais
popular sopa do país, de paladar bem marcante, a base de arroz, ovo e
limão. A mesma combinação de limão e ovo é usada no molho avgolemono,
que serve para muitos tipos de carne.
Usam-se elementos doces e salgados; e ingredientes como nozes e gergelim
são comuns a muitas receitas.
No café da manhã, o iogurte grego, que é suave e encorpado, pode ser
apreciado com frutas e coberto com o maravilhoso mel produzido na
Grécia. Tanto o iogurte como o mel grego predominam em toda a Europa.
Outras especialidades são as massas folhadas para tortas ou pitas, com
diversos recheios: de vários tipos de queijos isolados ou misturados (tiropita),
de espinafre (spanakopita), ou doces, como de creme, maçã (milopita) e
chocolate com banana. Os sucos de frutas naturais são imperdíveis.
Para um lanche rápido,
há o giros pita que consiste em carne de
carneiro ou pernil, temperadas e fatiadas a partir de um espeto
giratório e que pode ser servido tanto no prato, com salada, cebola,
iogurte e batatas fritas, ou com todos os ingredientes enrolado na pita,
um pão do tipo sírio, que se come com a mão como um sanduíche.
As sobremesas incluem saborosos doces feitos em geral no próprio
local de venda, como as loukoumádes (bolinhos tipo sonhos, fritos, com mel
e canela), bougátsa (doce de creme ou queijo com canela e açúcar), halvá,
rizogalo (arroz doce), galaktobúriko (torta de leite), baklavás (mil
folhas com amêndoas) e kadaífi (também de amêndoas e canela). As frutas
obedecem as estações perfumando o ar. Nas ilhas, entre agosto e
setembro, sente-se o tempo todo o cheiro dos figos maduros e doces que
nascem por todos os lugares. Entre agosto e setembro, também são saborosas
as melancias, abricós, pêssegos e os melões da ilha de Zakinthos. As
uvas e cerejas são maravilhosas... e é uma gentileza comum nos
restaurantes oferecerem um prato com frutas variadas como sobremesa.
De hábitos tradicionais, os gregos acham natural comerem, cada um com
seu garfo, de um mesmo prato com bolinhos ou salada, por exemplo. Nas
refeições principais, isso já não acontece. Tudo é temperado com muito
azeite, considerado o melhor e mais saudável do mundo. Várias
publicações médicas, em revistas de cardiologia, associam o consumo do
azeite grego e vinho em pequenas quantidades, como alimentação
preventiva à doenças cardíacas, pois fazem aumentar apenas o chamado
colesterol bom. Tanto que a ilha de Creta é o local do mundo de menor
incidência de doenças coronarianas, apesar de ser um dos povos que mais
fumam.
Os Mezédes
Bebida alcoólica,
sem comer: nunca!!! Qualquer bebida tem que vir acompanhada de algum
petisco. Aliás, os gregos são especialistas em mezédes, pequenas porções
de muitas coisas deliciosas, degustadas no almoço (antes das
refeições).ou no final da tarde. Podem ser patês para comer com pão: de
berinjela (melitzanosalata), coalhada com pepino e alho (tzatziki) ou de
ovas de peixe (taramosalata); tomates, abobrinhas, pimentões ou
berinjelas recheados (gemisto) com carne e molho; bolinhos de polvo ou
de carne (keftedes); queijo grelhado à milanesa (saganaki); frutos do
mar (lulas, camarões, polvo, mariscos) e pequenos peixes fritos;
charutinhos de folhas de uva (dolmadakia) quentes ou frios, servidos ou
não, com um saboroso molho de ovos com limão (avgolémono) e, claro, a
salada grega chamada de xoriátika (tomates, pepinos, finas fatias de
cebola, azeitonas, pimentão verde e uma fatia de um forte queijo de
cabra, o feta, temperada com orégano).
Os ouriços do mar,
que os gregos dizem que são afrodisíacos, também são servidos nas ilhas,
sobretudo no horário do pôr-do-sol,
temperados com azeite e limão, junto com outros mezédes.
Os mezédes, tão tradicionais na Grécia, em geral, são servidos com a
bebida típica grega, o ouzo (pronuncia-se uzo), um destilado
transparente de uva com anis, bastante forte, que pode ser bebido puro
ou com gelo e água (quando se torna de cor leitosa), ficando muito
refrescante. Por isso, os locais onde se comem os melhores mezédes são
chamados de ouzerias. Apesar disso, muitos gregos preferem o tsípouro ou
o rakí , também destilados de uva porém, mais puros e com menos sabor de
anis. Mas ninguém vai se importar se preferir uma cerveja bem geladinha.
Os queijos
Os queijos gregos são deliciosos. Alguns, são famosos em todo o mundo,
como o Feta (feito de leite de cabra) e o Graviera; outros de produção
caseira e local, de determinados lugares, tem um paladar diferente e são
muito saborosos. Os queijos de Metsovo são especiais, principalmente os
defumados, que são servidos derretidos para comer com pão ou em crepes.
Nas ilhas é comum se encontrar queijos deliciosos e típicos como o
Graviera de Creta, o Kaseri e o Kefalotiri.
O Vinho
A Grécia Clássica era relativamente austera no que diz respeito aos
prazeres da mesa mas o vinho representou um papel importante em sua
civilização. Os gregos, grandes comerciantes, propagaram esse néctar por
todo o Mediterrâneo e, a par das
suas inclinações artísticas e intelectuais, o vinho os tornou sobejamente conhecidos no
mundo antigo.
Bravos consumidores,
para
os gregos qualquer refeição que se prezasse, mesmo a mais humilde, tinha
que ser convenientemente regada com os calorosos vinhos da Trácia, de
Tassos, ou de Quios. Não mudou muito até hoje.
Os vinhos gregos são de ótima qualidade e diferem-se a cada região.
Entre os brancos, são famosos os de Santorini, alguns premiados na
Europa, com suas uvas assirtico, atiri e aidani, cultivadas em solo
vulcânico. Em Limnos, Rodes e Patra destacam-se os moscatos e em
Kefalonia, o moscato e o robola. Os tintos mais famosos são de Nemea,
Creta, Naussa, Rodes, Paros e todo o norte da Grécia. Os doces, para
aperitivo ou sobremesa, também chamados de vino santo, são maravilhosos,
como os de Samos, Patra, Santorini e Limnos.
Os antigos gregos
sabiam produzir o vinho, mas tinham dificuldades em mantê-lo sadio
durante muito tempo. Uma das soluções encontradas, foi de misturar
algumas resinas ao vinho. Esse hábito culinário da Grécia Clássica
sobrevive no vinho mais típico e mais popular da Grécia, o Retsina.
Tradicionalmente aromatizado pela resina do pinheiro, o Retsina é um
vinho diferente, diante do qual é difícil ficar indiferente: é gostar ou
detestar. Quando fresco é suave e parece um branco leve, apesar da maior
graduação alcoólica. No engarrafado, sobressai mais o gosto de resina da
madeira do barril e assume um paladar diferente. Beba-o muito bem gelado
na praia, ou à tarde como aperitivo. Muitos Retsinas são de fabricação caseira. Alguns gregos o misturam com clube
soda ficando parecido com um espumante refrescante.
O Café
Igual a todos os outros países europeus, existem na Grécia muitas
cafeterias, e o café é uma mania grega tão notada como a brasileira.
Pode ser tomado forte, feito à maneira árabe com muito pó sedimentado no
fundo da xícara ou, no calor intenso do verão, gelado, como um frappé ,
batido puro, com leite, com o licor Baileys ou com sorvete de creme. Vem
sempre acompanhado de um copo de água. Com o café na mesa os gregos
ficam horas conversando ou jogando gamão.
Os cozinheiros
Os cozinheiros gregos eram homens livres, que se gabavam de ter como
antepassado Cadmus, fundador de Tebas e inventor da escrita. Chegaram
até nós os nomes de alguns “chefs” famosos e na época da dominação
romana houve mesmo algumas escolas de cozinhas em Atenas, onde eram
organizados concursos.
A culinária era, pois, uma profissão lucrativa e honrada.
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http://correiogourmand.com.br/info_01_cultura_gastronomica_03_cozinhas_do_mundo_grega.htm
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